segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ferida Sagrada



Ferida Sagrada

E que fazer com a dor excruciante sentida no processo de desmoronamento? Ela vai ficar ali, para sempre. E vai se tornar o que alguns terapeutas chama de "ferida sagrada". A partir dela, poderemos nos tornar solidários com quem passa pela mesma dor. Mais que isso: os mitos gregos nos ensinam que também vamos adquirir o potencial de curar quem prova o mesmo sofrimento que experimentamos. Quíron, o centauro que ensinou Esculápio, o pai da medicina, a trabalhar com ervas e poções, tinha uma ferida que nunca curava. É engraçado: o grande mestre das ervas medicinais, ele próprio, tinha um corte que não sarava. Mas era exatamente essa ferida que dava a ele o dom da cura. Quíron é o que chama-se de um curador ferido. A partir de sua dor, podia compreender e curar a dos outros.

Quando tudo se desintegra, somos submetidos a uma espécie de teste, e também a certo processo de cura. Achamos que o sentido está em pensar no teste e superar o problema, mas a verdade é que muitas situações não têm solução definitiva. Elas se compõem e se desmoronam. E mais uma vez se compõem e se desmoronam. É simplesmente assim que funciona. O processo de cura ocorre ao existir espaço para que tudo aconteça: espaço para o pesar, espaço para o alívio; para a angústia, para a alegria. A dor da ferida sempre estará lá, assim como as outras dores que virão. Não precisaremos tanto nos proteger, porque já teremos a sabedoria de que não podemos nos esconder do sofrimento causado pela vida. Ele vai vir, de um jeito ou de outro. Mas, com o coração mais vulnerável e exposto, com o corpo mais relaxado e a alma mais tranquila, passaremos por ele de maneira totalmente diferente.

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