segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vida Simples - Frilândia para profissionais liberais!


"Muitos profissionais liberais de diferentes áreas vêm preferindo a dura calçada do CNPJ próprio ao teto com telhado de vidro da CLT. Existem muitas vantagens em ser freelancer, ou frila - que podem se converter em perrengues rapidinho. Basicamente há duas variantes da estação frilândia: pijamismo x caramujismo.  No pijamismo por exemplo, depois do almoço você pode respeitar seu metabolismo e tirar uma sesta em lugar de ficar no computador fazendo 'tufta' (expressão russa que designa fingir trabalhar!). Na frilândia não tem 'tufta', claro, você pode passar o dia inteiro enrolando, mas estará enrolando você mesmo, já que não tem chefe: você tem clientes. Tem prazos, deadlines e projetos que dependem de sua hailidade para gerenciá-los. E aí começam alguns perrengues: você é seu gestor, seu contador, seu motoboy.  Ser frila exige muita disciplina, pois você não terá mais 13º salário, bônus, beneficios de convenio médico e previdência; por não ter emprego fixo, é sempre olhado com desconfiança ao pedir financiamento; suas férias devem ser programadas tendo em vista os trabalhos encomendados; todos os gastos com telefone, internet, luz etc. serão contabilizados no seu bolso. O pijamismo por exemplo, pode matar um casamento. A patroa sai e você está lá, de calção e camiseta velha, em frente ao laptop, costurando para fora. Ela volta e você lá. Ela (ou ele) vai jantar, dormir, ver um filme, ouvir música, chamar os amigos para um vinho - e você lá, zero glamour, vagamento parecido com a decoração da casa, criando musgo. É que frila não tem horário - e sua mulher marido) talvez tenha. O casamento, suficientemente acossado pelos demônios da rotina, não resiste a essa desgovernada exibição de solteirismo laboral. Todo recém frila pode adorar a liberdade de não ter horário, de esticar os almoços até os jantares, de ver em plena terça-feira um Barcelona x Real Madrid - e depois, por que não, pegar um cineminha com as vovós. Só que isso implica em ter que trabalhar num domingo, num feriado, e pouco a pouco desviar-se da agenda das pessoas organizadas com quem você se relaciona - o risco de cair em um autismo social.

Para combater o pijamismo existe o caramujismo. É acordar, tomar banho e vestir-se para o trabalho, colocar a mochila com laptop, livros e papéis nas costas, pegar a bike ou a scooter e sair de casa - mas, a cada dia, o trabalho é em um endereço diferente. Há cada vez mais cafés que abrem seu wi-fi para a conexão dos trabalhadores ambulantes. Durante a tarde, esses espaços ficam vazios, então é jogo deixar os frilas ocupando as mesas, mesmo que só paguem um único café o dia todo.

Há tentações: os prazeres do açúcar, da cafeína, da rua, os amigos a interromperem seu trabalho. Por isso é que, fazendo um upgrade no caramujismo, muitos frilas aderem a um dos diversos planos de coworking, que são espaços com todo tipo de plano para quem passa pouco ou muito tempo, com um fixo razoável para as despesas com comunicação. Outra opção é o caramujo se juntar a seus iguais e rachar uma casa para levantar um escritório. Sai mais barato, e pode ser um espaço importante depois de tanto tempo de solidão na estação frilândia.

Quando a cultura da interrupção volta a cercar os espaços do frila, ele lança mão de sua arma secreta: o headphone."


Ronaldo Bressane - Rumo à estação Frilândia - Revista Vida Simples - 07/12.

Adorei este texto muito bem escrito na revista Vida Simples de Julho deste Ano! Deixou o assunto leve, com cara de crônica! Dei muitas risadas e não pude não compartilhar! Ainda não sou uma "Frila", mais acredito que em breve serei... É possível que carregue bem mais que um laptop..  E com certeza, serei adepta do Caramujismo, e haja Headphone!

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